giovedì 14 maggio 2009

O homem-bomba da Suíça

O homem-bomba da Suíça

From Wikileaks
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May 7, 2009

By Leonardo Attuch (Istoe Dinheiro)[1]

"Pelo banco, passaram recursos de empresários, políticos e advogados do Brasil" - Rudolf Elmer, ex-diretor do Julius Baer
"Pelo banco, passaram recursos de empresários, políticos e
advogados do Brasil" - Rudolf Elmer, ex-diretor do Julius Baer

Rudolf Elmer foi diretor nas Ilhas Cayman de um grande banco suíço. Arrependido, ele se oferece para colaborar com o governo brasileiro para ajudar a rastrear o dinheiro sujo

Vivendo num pequeno arquipélago do oceano Índico, nas Ilhas Maurício, o ex-banqueiro Rudolf Elmer se transformou no inimigo público número 1 da Suíça. Chamado de “traidor” do seu país, ele pretende implodir uma tradição de mais de 500 anos: o segredo bancário. Graças ao sigilo, a Suíça administra hoje mais de US$ 3 trilhões em contas secretas. Elmer foi auditor de um dos maiores bancos locais, o Julius Baer, que tem US$ 42 bilhões em ativos, e dirigiu a filial das Ilhas Cayman até 2002, quando foi demitido e iniciou uma longa guerra com o banco. Agora, ele pretende revelar o que sabe – e garante que seus segredos passam pelo Brasil. “Posso colaborar com governos de vários países num esforço para rastrear e repatriar recursos não declarados”, disse ele com exclusividade à DINHEIRO (leia à página seguinte). Elmer afirma que passaram pelo Julius Baer recursos de políticos, empresários e advogados brasileiros. Dos clientes notórios da América Latina, ele destaca a família do ex-presidente do México, Carlos Salinas.

Rudolf Elmer se transformou num homem-bomba porque, pela primeira vez, um banqueiro suíço vem a público revelar os meandros de uma atividade sempre cercada por sigilo e mistério. E suas denúncias ocorrem num momento de grande pressão sobre a Suíça. O UBS, maior banco do país, fez um acordo com a Justiça dos Estados Unidos e abriu as identidades de mais de 200 clientes. O Credit Suisse, segundo banco do país, informou, dias atrás, que fechará as contas de clientes dos Estados Unidos mantidos em filiais off-shore, como os paraísos fiscais das Ilhas Cayman. E, no Brasil, banqueiros suíços foram presos em três operações recentes da Polícia Federal: Kaspar I, Kaspar II e Castelo de Areia. “Estamos assistindo ao começo do fim dos paraísos fiscais”, diz Elmer.

Sede do Banco, em zurique, na Suíça: com US$ 42 bilhões em ativos, o Julius Baer administra grandes fortunas globais
Sede do Banco, em zurique, na Suíça: com US$ 42 bilhões em ativos,
o Julius Baer administra grandes fortunas globais

Os papéis mantidos pelo ex-diretor do Julius Baer revelariam os nomes das empresas – ou trusts – que seriam mantidas por clientes de vários países do mundo no Julius Baer. Mas Martin Somogyi, porta-voz do banco, disse à DINHEIRO que são “documentos forjados”. Elmer, por sua vez, nega que tenha fabricado qualquer evidência. E diz que está pronto para colaborar com autoridades brasileiras. Suas denúncias já ajudaram o governo da Bélgica a investigar o banqueiro Philipp Stoclet, dono de uma das maiores fortunas do país. Além disso, Elmer diz ter cooperado com autoridades fiscais da Alemanha e dos Estados Unidos, onde foram identificados nomes de cotistas em paraísos fiscais do Carlyle, uma das maiores empresas de private equity do mundo. “O sistema financeiro suíço é parte de um esquema de corrupção sistêmica”, diz ele, que está prestes a concluir um livro sobre o tema, chamado Um paraíso para alguns não é paraíso para ninguém.

Muitos dos registros do Julius Baer apareceram em primeira mão no site americano Wikileaks, especializado em vazamentos de documentos confidenciais. Incomodados, os diretores do banco em Zurique entraram com uma ação judicial para tentar fechar o Wikileaks. Perderam e a decisão de um juiz da Califórnia, tomada em março deste ano, foi considerada um marco na defesa da liberdade de informação. “Já não é mais possível ocultar a verdade”. Leia a seguir a entrevista exclusiva de Elmer à DINHEIRO.

“Sou uma ameaça aos paraísos fiscais”

Considerado traidor da Suíça e disposto a vazar documentos sobre grandes clientes do Julius Baer, Rudolf Elmer falou com exclusividade à DINHEIRO

DINHEIRO – Qual era sua função no Julius Baer das Ilhas Cayman?
RUDOLF ELMER – Eu fui auditor durante sete anos em Zurique, na Suíça, antes de me tornar responsável pelo escritório do banco em Cayman. Lá, cuidei da operação como um todo e percebi que estava sentado sobre um barril de dinamite. Especialmente porque as Ilhas Cayman não são um lugar apropriado para quem questiona a conduta dos bancos. Comecei até a receber ameaças de morte.
DINHEIRO – O sr. cuidou do dinheiro de clientes do Brasil e da América Latina?
ELMER – Nós cuidávamos das empresas, dos registros contábeis, dos contratos e das transações que eram feitas em fundos off-shore. Sabíamos quem eram os clientes, mas a relação direta com eles era feita com os gestores do Julius Baer em Nova York ou Zurique.
DINHEIRO – E quem eram os clientes?
ELMER – Passaram pelo Julius Baer em Cayman empresários, políticos e advogados brasileiros. Se houver interesse, posso vir a colaborar com a Justiça brasileira. Mas um caso notório na América Latina diz respeito a recursos do ex-presidente do México, Carlos Salinas. Ainda hoje, há US$ 130 milhões em recursos bloqueados na Suíça ligados a ele.
DINHEIRO – O sr. hoje se arrepende de ter sido um banqueiro suíço?
ELMER – Sinto vergonha. Fui parte de uma organização que não causa danos apenas a países do Terceiro Mundo. Esse sistema é também prejudicial aos países vizinhos da Suíça e à sociedade como um todo. No fundo, eu estava ajudando a esconder dinheiro. Agora, aos 53 anos, tenho direito de aprender e também de me dar conta que apoiei atividades imorais, antiéticas e criminosas.
DINHEIRO – Os bancos suíços atuam sempre fora da lei?
ELMER – Não sei se todo o sistema é antiético, mas ouvi de um alto diretor do Julius Baer que a palavra ética não tem nada a ver com a atividade dos private banks.
DINHEIRO – A Suíça sobrevive sem o segredo bancário?
ELMER – A Suíça hoje tem um problema, pois administra 27% dos US$ 11,5 trilhões que são mantidos em paraísos fiscais. É o líder do ranking de um negócio que hoje não pode mais ser considerado legítimo.
DINHEIRO – O sr. saiu do Julius Baer há alguns anos. Ainda assim, acredita ser possível rastrear os recursos?
ELMER – Sim, porque cada transação financeira sempre deixa uma evidência. O problema é que estamos falando de recursos que passaram por várias jurisdições e talvez não estejam mais em Cayman ou mesmo na Suíça. Em 2005, apresentei uma denúncia ao Ministério Público suíço, mas eles estavam mais preocupados em saber como eu tinha conseguido os documentos do que em investigar. O caso chegou a ser discutido no Parlamento suíço, mas chegou-se à conclusão de que as leis do segredo bancário não permitem um debate público sobre o tema. Na prática, tentaram me silenciar porque eu sou uma ameaça ao sistema bancário suíço.
DINHEIRO – Como foi sua demissão?
ELMER – Fui demitido de forma criminosa, quando tentaram me submeter a um teste num detector de mentiras. Fui vítima de uma pressão imoral, porque não concordava com o que via em Cayman. Aqueles testes encerraram uma carreira de 15 anos.
DINHEIRO – O sr. foi acusado de roubar documentos confidenciais do banco?
ELMER – No momento da demissão, não. Mas eles disseram que acabariam comigo se eu tentasse levar o Julius Baer à Justiça. Depois, o banco começou a me acusar de ter roubado documentos para que eles não pudessem ser usados nos tribunais. Mas chegou-se à conclusão de que eu não poderia ter roubado os documentos, uma vez que era o depositário dos mesmos. Eu poderia, no máximo, ter abusado dos documentos, mas não roubado. De um ponto de vista moral, usei os documentos para proteger a mim, minha esposa e minha filha de seis anos.
DINHEIRO – Como o sr. reagiu às ameaças?
ELMER – Vivi uma tortura psicológica. Minha filha chegou a ter medo de ir para a escola e de morrer. Recebi constantes ameaças, mas a polícia não me protegeu nem a minha família por uma razão simples: sou uma ameaça a toda a indústria dos private banks suíços. Fui também acusado pela imprensa suíça de ser um doente mental e um criminoso, antes de qualquer processo. E chegaram a me prender durante 30 dias. Depois disso, o banco chegou a me oferecer dinheiro em troca do silêncio e como uma compensação para que eu me recuperasse do trauma que sofri. Recusei porque quero me manter como uma pessoa de princípios e não ser parte de um esquema de corrupção sistêmica.

“Banqueiros suíços que ajudam ricos a esconder dinheiro são bandidos comuns”

DINHEIRO – Recentemente, o UBS fez um acordo com a Justiça dos Estados Unidos, comprometendo-se a abrir os nomes de alguns clientes. Os paraísos fiscais vão acabar mais cedo ou mais tarde?
ELMER – As autoridades americanas pediram 52 mil nomes e até agora foram entregues 200 apenas. Mas é questão de tempo para que todos se tornem públicos. A Suíça hoje não pode se dar ao luxo de rejeitar uma determinação judicial dos Estados Unidos. Isso teria graves consequências econômicas. Na minha opinião, é o começo do fim do segredo bancário, porque outros países seguirão o exemplo norte-americano.
DINHEIRO – Como o sr. se sente sendo acusado de ter traído a Suíça?
ELMER – Não tenho nenhuma mágoa. Apenas lamento que meus compatriotas não se deem conta do mal que as leis suíças de segredo bancário provocam no resto do mundo. Isso tira o sangue da democracia e causa extrema pobreza do Terceiro Mundo. Além disso, não sou um traidor da Suíça, pois fui um oficial do Exército do meu país. Posso ser, no máximo, um traidor dos paraísos fiscais.
DINHEIRO – O sr. tem colaborado com autoridades fiscais de alguns países?
ELMER – Sim e, desde que eu comecei a falar, alguns milhões em recursos sonegados já foram recuperados. Se minhas ações ajudarem a salvar uma vida em qualquer país do Terceiro Mundo, já me sentirei orgulhoso do que fiz. As pessoas que escondem dinheiro no sistema bancário da Suíça ou das Ilhas Cayman são vampiros da sociedade.
DINHEIRO – Há algumas semanas, o banqueiro suíço Kurt Pickel foi preso no Brasil, acusado de lavar dinheiro para uma construtora. Antes dele, outros banqueiros suíços foram presos por acusações semelhantes. Esta virou uma profissão de risco?
ELMER – Se banqueiros suíços estão tomando parte em ações criminosas, eles devem ser tratados como o bandido comum que rouba dinheiro do vizinho. Não se trata aqui do risco da profissão, mas do risco do crime.
DINHEIRO – Banqueiros suíços que foram presos estão sendo convidados a participar de delações premiadas. Sendo assim, qual é a segurança de uma pessoa que manteve dinheiro em paraísos fiscais?
ELMER – Devemos dar segurança a criminosos que não declararam seus recursos? Hoje, nos Estados Unidos, na Alemanha e em vários outros países, as pessoas começam a ter a convicção de que não vale mais a pena correr o risco de sonegar.

First appeared in Istoe Dinheiro. Thanks to Leonardo Attuch and Istoe Dinheiro for covering these documents. Copyright remains with the aforementioned.

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